Retrato

 
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
em que espelho ficou perdida
a minha face?

(Cecília Meireles)

Então conheci Barbra Streisand.



“Don't tell me not to fly I simply got to. If someone takes a spill it's me and not you. Who told you, you're allowed to rain on my parade.”



Pensando em níveis de boiolice, atingi o grau supremo. Conheci Barbra Streisand e gostei. Fascinado por sua beleza e seus agudos, chorei e sorri com “Funny Girl” um filme belíssimo, e que recomendo. Ainda fascinado pela Barbra, resolvi contar a um amigo, e ele sabiamente me disse:

- Relaxa, ainda te falta venerar Maria Bethânia e a Madonna. 

- Não sei amigo, eu estou mais surpreso que aquele dia, quando descobri que as cenas dos Power Ranges transformados eram gravadas no Japão por homens inclusive as Rangers Rosa e Amarela. Respondi.
Momento desabafo: Mais feliz e dopado que Lily Allen no clipe LDN por Barbra Streisand.

O menino do chapéu de palha

"Os meus sonhos são, quase sempre, mais verossímeis do que a realidade."


        Ontem tive duas festas para ir, uma na fazenda do lado da minha casa e outra na favelinha, ambas, festas Juninas. Essa foto a cima representa minha tristeza antes de sair de casa sem ter um chapéu de palha, e a outra, num banheiro aleatório, minha felicidade por conseguir um chapéu. Admitam que vocês, jamais serão tão felizes como esse pobre menino sorridente que aqui vos escreve com esse adorável chapéu de palha.
          Ps: Fui pra festa do vizinho, voltar para o Recreio de madrugada ia ser impossível.
          Ps²: Sim, eu só queria compartilhar minha alegria com meu fabuloso, maravilindo e espetacular chapéu de palha
          Ps³: Não sou Mc Anitta mais xô recalcadas, tirem os olhos do meu chapéu.

(A)MAR

Certos sais espremem e entortam como acerbo,
a boca rachada do frio
formando caretas aos homens
reavivando os velhos.

(O)mar imenso, envolvente,
asfixiador entre seu seio português.
Ah, eu bem sei das feridas do (a)mar!
Resgatar o puro.
Reviver no fero.

Ah, você me sussurra no ouvido!
Coisas com afeto que só quero relembrar.
(  )mar me faz perceber a pequenez
de uma vida a planear com memórias.

De surtar com histórias
e arrepiar no invólucro calcário
das emoções.
Ah, isso é o (a)mar.
 


Descompassos de uma vida apaixonada.

           

"Eu não tenho medo de te amar depois morrer, porque morrer de amor é viver."
Esses dias aconteceu um evento que me fez refletir. Uma entrevista. Me perguntaram se eu gostava de Literatura Portuguesa, pausei a mão sobre o coração, e de maneira mais apaixonada disse: "Eu gosto bastante". A editora que precisava de um estagiário que conhecesse seus produções, insistiu, "de que autor você gosta?", agora pensando, poderia ter dito Valter Hugo Mae ou até mesmo o Fernando Pessoa, mas acho que meu sorriso e minha excitação falaram mais alto e respondi antes de conseguir pensar, meio que por impulso. Com os olhos brilhando eu disse: "- Camões, eu amo Camões." elas ficaram surpresas com minha resposta. E me perguntaram: "Como assim? Alguém tão novo gosta de Camões?!" Eu que já me desprendi de certos conceitos respondi: "Eu tive um professor titular em Literatura Portuguesa que lia os sonetos e baixava o livro sobre o colo, parava na minha frente exibia o braço e dizia: 'Tá vendo Bruno?" eu sem entender olhava para o braço dele e dizia: "o que professor?". "Estou arrepiado!". Nossa é indescritível como meu coração compartilhava da mesma emoção que a dele. Eu puxei todas as matérias que consegui, tentei acompanha-lo na faculdade por tamanha habilidade em me envolver com seus sentimentos e suas leituras. "Eu sei que parece bobo." Disse na entrevista, "mas ele despertava o mais puro dos meus sentimentos". Elas riram, mas sai de lá Bruno, humilde, apaixonado e confiante de que eu tinha sido eu sem mais a vergonha que me trava o espirito. É assim que tenho desejado ser, mais e mais doce.

Aqui Jaz Virginia Woolf



Para ler ao som de Cavatina do Quarteto Nº 13 em Si Bemol Maior, Op. 130 de Beethoven.

              
              “Estou certa de que estou enlouquecendo outra vez. Sinto que não podemos sobreviver outro daqueles terríveis períodos. E não me recobraria desta vez. Começo a ouvir vozes, e não consigo me concentrar. Assim, estou fazendo o que parece a melhor coisa. Você me deu a maior felicidade possível. Você foi, sob todos os aspectos, tudo o que alguém pode ser. Não Creio que duas pessoas tenham sido mais felizes até que sobreveio essa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida, que sem mim você conseguirá trabalhar. E você o fará, eu sei. Você percebe que não consigo nem escrever direito. Não consigo ler. O que posso dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você foi inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que... todo mundo sabe. Se alguém pudesse ter me salvado teria sido você. Tudo se esvaiu de mim, menos a certeza de sua bondade. Não posso mais continuar estragando a sua vida. Não creio que duas pessoas possam ter sido mais felizes do que nós fomos.”

               Leonard enterrou as cinzas debaixo de um dos dois grandes olmos que eles haviam batizado de “Leonard” e “Virginia”, no jardim da Monk’s House. Em cima, uma tabuleta com uma citação do final de As Ondas:

“Contra ti me arremeto, invencível e inquebrantável, ó morte.”

Eu Quero Ser Hushpuppy

Eu sempre achei que no enterro do meu pai, ele estaria sem tripa, coração e muito menos amor. E que eu, subiria no túmulo e dançaria um samba bravo,violento sobre a tumba dele. Mas que Drummond me perdoe, pois decidi, nesse dia eu comerei um bolo de aniversário e me lambuzarei de felicidade com o mais puro e açucarado glacê de todos os tempos.

A primeira macumba a gente nunca esquece.



Depois de um final de semana longe de casa, comemorando meu aniversário, chego em casa, no meu prédio e na porta da frente, exatamente na porta da vizinha, a visto um prato marrom preenchido com farofa  e três incensos. No mínimo curioso, e gostaria muito de segundos depois não ter reconhecido o prato de casa, a cena era deprimente parecia um bolo de farofa com três velas daquelas que soltam faíscas só que na verdade três incensos acesos. Antes que a síndica visse que, na porta da casa dela, tinha um projeto de despacho peguei o prato e joguei a farofa no lixo. No banheiro: minha avó colocando bobes no cabelo resmungando: “Agora ela nunca mais vai inventar historia de regar minha planta da porta, po o que que há?! Pra que foi cismar com minha planta, deixa minha planta em paz.”. 

- Oi vó, cheguei! O que era o projeto de macumba na porta da casa da dona Marta? 

-AHhh... a safada foi regar minha planta e veio tocar a companhia falando que a planta caiu no chão. Caiu porque a imunda num vai cuidar da vida dela, deixa minha planta em paz. Fiz um pratão de farofa com bastante cebola pra ela ficar assustada que sou bruxa, macumbeira e perigosa. 

Sinceramente, eu sempre ouvi dizer que macumba boa é macumba longe. Tipo em longiguaçu, Campo Grande,  Realengo. E nunca esperei ver nenhum tipo manifestação religiosa na porta de casa logo de manhã. É vergonhoso, mas minha avó se acha macumbeira porque acende um incenso com cheiro de erva uma vez ou outra. Admito que de inicio, eu fiquei com pena, senti uma vontade de me oferecer de ir ao mercadão de Madureira comprar um pote de barro daqueles que a gente vê nas encruzilhadas pra pelo menos aparentar mais real. Só que não. 

Nota do autor¹: Meu maior arrependimento foi não ter tirado uma foto.
Nota do autor²: Não sei se pego o prato e jogo fora ou se lavo e finjo que nada aconteceu.