Um texto que pensei em divulgar para falar do meu livro, mas achei melhor deixar quieto.

 [AMARRAÇÃO DE AMOR] ressentimento 

Na manhã do dia 19 de maio de 2010, enquanto furava uma parede com uma furadeira na varanda de casa, meu vizinho foi morto pela Polícia Militar. Eu estava no segundo período da faculdade de Letras, naquela época, eu ainda não sabia que existia um mundo dos bichos e o mundo das pessoas que existiam de forma concomitante. Um é o mundo que te silencia com um "NÃO", o outro com a violência de um corpo caído.

Quando penso no meu livro, imediatamente ou involuntariamente, eu penso sobre esses dois mundos que de alguma forma tentam se afastar, mas que habitam como um ressentimento em mim. Eu cruzei uma fronteira tenebrosa que todos os dias me mantém submerso num sentimento de exclusão de dois mundos. Eu fui na universidade uma exceção que não me deram direito a qualquer ação afirmativa que amenizasse a merda de não ser nada. 

O espaço que te humilha para pertencer ao mundo das pessoas, se choca com uma corriqueira grosseria do outro lado. O Ensino Superior nunca vai te oferecer as ferramentas para se tornar um deles. Vão te espremer até desistir. A gente que frequenta o mundo das pessoas para conquistar a libertação econômica, sente vergonha por existir o tempo inteiro, vergonha de onde mora, vergonha de onde saiu, vergonha da violência que vai além de nosso controle.

A universidade que faz projetinho social em favela, em outros contextos, é a que debocha do aluno que vende bala no ônibus. Assim, todo esse ressentimento perpassa por um diagnóstico lamentável de me ver pertencente a essa classe média, com a diferença que, talvez, eu não tenha ou nunca terei uma indicação certa para um trabalho. Eu sai de um buraco onde a lei do mais forte rege todo o caos, para um mundo civilizado em que as palavras tentam cumprir todas as demandas.

Talvez o meu livro não te diga nada, mas a favela tá lá, as minhas grosserias estão lá. Eu gritando mais alto, sendo bicho que chora, um bicho ferido, uma bicha. Tudo lá, registrado para quem se aventurar ler alguma coisa. Que merda, acordar um dia se entendendo como um bicho híbrido de uma classe média, pelo menos nunca repeti pra ninguém "como fazer poesia depois Auschwitz?", nem imagino o riso da minha avó ouvindo uma coisa dessa.



Anotações sobre Wisnik


 José Miguel Wisnik: “Novo protagonista da nossa cultura vem da periferia”

antropofagia é uma das ideias, força do modernismo

baixa antropofagia - que também nos habita

inveja, usura, calúnia e assassinato.


O mito da origem do moderno no Brasil*


coração do mar - a música que abre o disco de Elza Soares

Jornalista "Rui Castro"

O Rio já era moderno, já era cosmopolita 

o modernismo paulistano é "um arroubo provinciano"

São Paulo em 30 anos (1890 - 1920)

passa de 20 mil a um 1 milhão de habitantes.

"O poeta da rua lopes chaves"