INVEJA
Esses dias me dei conta no quanto desejo coisas. Meu orientador me contou feliz que se tornou avaliador do prêmio ocenanos. Estávamos num bar e disse a ele: - agora é aquele momento que você para o bar e diz: "uma rodada para todo mundo por minha conta!" Ele me cortou e disse para falar baixo (imaginei que fosse sigiloso).
Semana passada, fui apresentar num congresso sobre a Ana Cristina Cesar e uma colega Talita (talvez um nome fictício) se apresentou tão bem, com tanto amor pelo o que apresentava, não se apegou ao texto (como aprendi a fazer para passar seriedade). Fiquei com tanta vontade de testar alguma apresentação dessa forma, para desafiar a minha oratória.
O título desse texto diz inveja, mas não é o sentimento pelo qual estou reinvindicando neste dois casos isolados. Curiosamente, um crush da universidade, talvez de 2015, casou em uma mega cerimônia com um rapaz. (Todos os dias eu penso em fazer uma festa de casamento para aproveitar o momento especial com meus amigos, por minha conta é claro).
Temos aqui, no parágrafo acima meu caso de inveja declarada. Acho que tive uma conversa sobre relacionamento e afetividade com Matheus anos atrás e lembro de uns comentários aleatórios que me disse: "eu não sei exatamente aonde, mas todas as vezes que converso contigo, me vem a sensação de que você está me ensinando alguma coisa de profundidade sobre a vida". Como se eu me colocasse num lugar superior a ele.
De lá para cá, muita coisa mudou, talvez essa arrogância de me por num lugar superior a alguém no flerte tenha mudado bastante. É difícil prever, uma vez que eu me vejo como uma pessoa tão mais fácil de lidar, de que no final eu vou investir e a outra pessoa não vai saber lidar com os sentimentos dela. Em algum momento lidando com homens, flertando com homens, aprendi a ser assim, algo que ando me policiando.
Mas sobre a inveja, senti inveja do casamento do Matheus, por ter sentido muito amor por ele em algum momento, por ser espírita e aceitar casar com alguém publicamente e esse alguém não ser eu. Sobre o meu orientador, eu quero ter a minha trajetória e ser chamado para avaliar os concorrentes do prêmio oceanos ou sobre a Talita, quero também aprender a ter mais desenvoltura em público. Sobre os dois primeiros parágrafos, eu quero me superar, sobre o Matheus, eu desejo felicidade ao casamento.
Erasmo Carlos - É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo
Gostaria de começar este post com a frase, essa música no filme Ainda estou aqui é uma pedrada no olho. Eu cresci em torno do primeiro batalhão de polícia do exército, onde muita gente foi torturada e morta pelos governos da ditadura. Assistir o filme vendo o que acontecia ali me tirou o fôlego de tantas maneiras. O silêncio em que muitos momentos a Fernanda Torres nos proporciona no filme é um tapa, é uma agressão, é um gesto de engolir a seco. Não vou dar uma nota nem especular que a gente merece um prêmio tal de cinema, porque a gente é maior que isso. A gente é maior que um prêmio de uma Gwyneth Paltrow usará como peso de porta.
Oficina de Poesia - Carlito
"o fogo nos repelia" não aceita a nossa presença. A gente respira o ar. A gente se banha na água, a gente deita na terra.
Virgem - Antônio Cícero
As coisas não precisam de você
Quem disse que eu
Tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos
Também não precisam
O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Esses não sabem de você
O farol da Ilha
Só gira agora
DAY ONE: Oliveira Couto
Macumba paulista
Roteiro minha casa
mais uma atualização no dia 27 de outubro
Ultimamente tenho pensado muito em como meu pai seria útil na construção da minha casa, da visão minuciosa que ele teria em administrar o pedreiro. Já fui avisado, o golpe tá aí, cai quem quer.
projeto quiti.bruno
Hoje paguei a primeira parcela do projeto de casa que pretendo construir no Rio de Janeiro.
Você se preserva para quem?
Esses dias me consultei no tarô e foi a pergunta que o tarô me fez. Para quem me dou ao respeito? Tenho reflito demais sobre isso ultimamente. O homem casado do Linkedin me procurou para conversar, me contou sobre sua vida, sobre os abusos sexuais da infância, sobre ter casado com uma menina com 17 anos para se proteger das pessoas, disse que não transam há anos (claramente me despertou um "sei" - afinal é um clássico de homem casado retratado nas novelas da Gloria Bolsonara Perez). Mas, me pareceu ser verdadeiro, disse que não transavam, mas que vão fazer inseminação porque claramente não fariam de maneira natural (me disse até o gênero da criança). Talvez essa história algum dia vá para meu livro.
Uma coisa que me fez acreditar na honestidade do diálogo foi ele mencionar que já estão juntos há 14 anos, que já acostumou com a presença dela. Ele é um homem gentil e doce na individualidade dele. Bate aquela vaidade: larga tudo, vamos viver uma relação legal, vamos ser os melhores amigos da vida de cada um. Mas ando me preservando para algo maior que nem sei exatamente o que é (de acordo com o tarô que não acho que esteja de todo errado). A grande questão é: o que me impede de dizer para ele, vamos tentar viver algo juntos? Vamos tentar? Me lembrei enquanto me questionava. Sou um homem de 35 anos com um background complexo, difícil e sozinho. O destino dos meninos monstros se tornarem Dama da Noite.
Um beijo Caio Fernando Abreu te envio energias por sua história na minha trajetória e pelo aniversário recente.
ps: acrescentei o caso supracitado no meu livro.
User: 2,910 Registered: 4 Mar 2023
Eu fui uma das 3 mil primeiras pessoas a entrar no BLUESKY. Não quero um prêmio por isso, avisarei minha terapeuta sexta-feira. Mas, queria deixar registrado para o Bruno do futuro.
transcrevendo uma entrevista
PRETA GIL
Esses dias viralizou uma conversa que a Preta Gil teve com seu pai. Eu particularmente amo o Gil e sua contribuição para a cultura/música brasileira. Mas, sempre pela Preta, sei de alguns comentários e atitudes dividosas do Gil, por exemplo, um dia ela disse que Gil tinha o "olhar de balança", "Preta,você emagreceu 2 quilos?" ou então, quando Preta lançou seu primeiro disco ele só comentou "desnecessário, preta." se referindo a ela ter pousado nu para seu disco.
Liniker incomodando
acho uma régua injusta porque estamos falando de uma mulher-trans-preta que quer sentir o direito de ser amada, no país que mais mata pessoas como ela, pessoas como nós.
Eu, particularmente, estou em transe com o disco novo. O quê mais me mobiliza em CAJU é a parte “quando eu alçar o voo mais bonito da minha vida, quem me chamará de amor?” Eu sei que um homem incrível, esforçado, trabalhador, que sou simplismente foda. Mas, me dói não ter ninguém para celebrar os meus voos mais altos, quando conquisto grandes momentos não tem ninguém ao meu lado.
Eu, por exemplo, não tive formatura, graças a Deus, não tive o constrangimento de ir num evento familiar, sem parente para convidar, mas seguimos resistindo como corpos diferentes, mas ao som de Liniker que nos coloca em afeto ao direito de sermos amados(as) e desejados (as).
um poeta com portfólio
Hit de Machado de Assis
[1] Você sabia que Machado de Assis não está “hitando” pela primeira vez nos EUA? Na pandemia o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas ganhou uma tradução nova e durante meses ficou na lista dos livros mais vendidos.
[3] Alguns diziam: “tive que ler na escola foi traumatizante,
detestei” outro disse “não entendi nada, agora estou relendo”. Essa discussão
começou por causa da repercussão do vídeo da escritora americana lendo clássicos
mundial.
[4] Rapidamente eu retruquei: Mas ao mesmo tempo se a escola
não cobrar em que momento a gente vai conhecer Machado? Às vezes, eu tenho a
sensação de que se a gente não cobra a escola falha, se a gente cobra cria
traumas. A culpa sempre é da escola.
[5] Gostaria de aproveitar o espaço pra dizer que a maioria
dos professores de português que temos, na escola, detesta literatura. E quando
a gente tem sorte de conhecer um professor que sabe o que tá falando, consegue
passar de verdade o que aquele texto significa.
[6] Para vender o livro para adolescentes a gente precisa
dizer que o texto de Brás Cubas “é a história de um defunto falando da sua
morte”, pura balela. Ele só é um brasileiro, medíocre, dramático, lixo. (Talvez
seja um canceriano, minha avó também dedica seus restos aos vermes que lhe dão
atenção)
[7] Uma vida inteira de frustração até a mulher que ele
desejava só via ele como um corpo para transar. Uma rola para o prazer, um lixo
para se ter como marido. Infelizmente, é o retrato do brasileiro todinho.
[8] Brás admira o tio porque faz coisa errada, inclusive o
leva para perder a virgindade num puteiro. Menospreza o pai por ser uma pessoa
boa. A família ficou rica com trabalho desonroso, recuperando escravo perdido.
Tudo na família Brás é uma tentativa de pertencer a uma elite, mostrar poder,
mostrar que tem grana.
[9] Um brasileiro medíocre que não gosta de estudar, não se
esforça para nada que preste, não tem admiração de ninguém porque como sociedade,
também não fazemos questão, de sermos nada além de aparências. O mais triste é nossa
constante necessidade de mostrar que somos melhores que os descendentes de
escravos desse país.
[10] Brás Cubas é um Brasil do século 19, que mostra quem é essa classe média medíocre que temos hoje. Brás é o bolsonarismo, que está empenhado em mostrar que é muito diferente dos mais pobres, dos mais simples desse país, uma tentativa constante de tentar aparentar classe dominante a partir da mediocridade e malandragem. É um Brasil que tá ai "desde tempos imemoriais"...
Na cama - Angela RoRo
Liniker - Bodyguard (COVER)
They couldn't have me
(aah), and they never will
And sometimes I hold you
closer just to know you're real (aah)
Wheels in the gravel,
Davis in my bones
Sometimes I take the day
off just to turn you on
Oh, oh, oh
Honey, honey, I could be
your bodyguard (hey)
Oh, honey, honеy, I could
be your Kevlar (uh)
Oh, honey, honеy, I could
be your lifeguard (hey)
Ooh, honey, honey, you
should let me ride shotgun, shotgun
Oh, oh, oh
Pluie (Chuva) Francis Ponge - Tradução Bruno Couto
A chuva, no quintal onde a observo cair, desce em velocidades muito diversas. No centro, é uma cortina fina (ou rede) descontínua, uma queda implacável mas relativamente lenta de gotas provavelmente bastante leves, uma precipitação perpétua sem vigor, uma fração intensa do meteoro puro. Um pouco mais distantes das paredes da direita e da esquerda, caem com mais barulho gotas mais pesadas, individualizadas. Aqui parecem do tamanho de um grão de trigo, ali de uma ervilha, em outro lugar quase de uma bolinha de gude. Nas hastes, nos braços da janela, a chuva corre horizontalmente enquanto na face inferior dos mesmos obstáculos ela se suspende em gotículas convexas. De um pequeno telhado de zinco que o olhar domina, ela escorre em uma camada muito fina, iridescente devido a correntes muito variadas pelas imperceptíveis ondulações e saliências da cobertura. Da calha adjacente onde flui com a contenção de um riacho raso sem grande inclinação, ela cai de repente em um fio perfeitamente vertical, grosseiramente trançado, até o chão onde se quebra e ressalta em fios brilhantes. Cada uma de suas formas tem uma aparência particular; a cada uma corresponde um som particular. O todo vive com intensidade como um mecanismo complicado, tão preciso quanto aleatório, como um relógio cuja mola é a gravidade de uma massa dada de vapor em precipitação. O som no chão das redes verticais, o gorgolejar das calhas, os minúsculos golpes de gongo se multiplicam e ressoam ao mesmo tempo em um concerto sem monotonia, não sem delicadeza. Quando a mola se solta, algumas engrenagens continuam a funcionar por um tempo, cada vez mais lentamente, e por fim toda a maquinaria para. Então, se o sol reaparecer, tudo desaparece logo, o brilhante aparelho se evapora: choveu.
A solidão da senhorita Bira
This is Us - 5x06: Birth Mother
Essa hora da noite eu pego para atualizar meu blog e sei o que quero mostrar, mas não sei o que quero dizer com as imagens. Na última publicação do meu blog. Eu mostrei o desenho que me fez chegar até This is Us. Aquela frase: você chora.
Foi muito importante para mim, principalmente me permitir chorar assistindo essa série. Muitas coisas que gostaria de construir e viver ao lado de alguém legal. Muitas dores que não saberia resolver ou curar.
Porém, hoje gostaria de falar do lago em que a mãe biológica do Randall cura todas as suas dores. Eu tenho uma conexão muito forte com a água. Nunca superei a música do Caetano em que ele diz: a água arrepiada pelo vento. Não há um dia que eu não pense em me jogar num rio e gritar o mais profundo grito de cura. De salvação, de redenção, de autocuidado.
Como cheguei até This is Us (série)
Em um dos fragmentos que chegou até mim deste desenho dizia:
- Eu sei que não dá para evitar o coração partido, mas o que eu faço quando eu sofrer?
- Você chora. Você chora. (diz a mãe).
Automaticamente cheguei nas lembranças da última vez que chorei. A segunda década dos anos dois mil, foram tão difíceis para mim. Minha mãe me expulsou de casa, meu pai com processo de exoneração de pensão alimentícia depois de tudo que a gente (eu e minha irmã). E tinha tanta dor presa, tanta dor entalada. Eu nunca oscilei tanto de humor como foi 2023 por causa da medicação de ansiedade. Eu me cai e levantei tantas vezes. Hoje escuto com espanto quando meus amigos dizem: você é sensível. Eu nunca achei que mostrava para as pessoas toda a minha fragilidade. Eu estou ficando ciente pelas pessoas que sinto demais, que transbordo demais.