anotações sobre Bachelard - A água e os sonhos


 Bachelard assim como Darcy Ribeiro não tem compromisso com suas ideias

Que força do imaginar está no espírito? (lembrando que o espírito não é a visão da limitação do idioma)

o sonho não interage com a realidade, o sonho (a imaginação) de uma certa forma interage com a realidade.

o fogo não é histórico, é primitivo

dualidade: da profundidade e superficialidade 

a matéria é o conceito da individualização.

informar dar forma

tese das 4 causas: 

> As quatro causas são: causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.

criada para entender os objetos naturais e objetos criados.


Não é sobre a água, mas sobre o líquido. 

a gente só sabe falar da matéria quando ela tem forma.

imagem não quer dizer visão, quer dizer estudo de linguagens

Cavador do Infinito por Cruz e Sousa

Com a lâmpada do Sonho desce aflito

E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho.
E como seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!

Gaston Bachelard - Psicanálise do Fogo e algumas anotações

 Gaston Bachelard acabou com a minha infância, hoje descobri que o sol não é composto por fogo.



O dualismo do Bachelardiano (é questionável apesar de ser consenso)

Bachelard reduz o papel da filosofia torna complementares a ciência e a arte.

Uma tarefa filosófica de tornar os dois complementares a tradição literária é formada por historicismo

O sol não é uma bola de fogo.

Por que o fogo ou o sol é uma referência positiva com relação ao mundo desde a origem?

Bachelard é um filosofo da positividade.



O sol está associado ao fissão atômica de átomos que se explodem, essa explosão atômica não produz fogo.  Fenômenos físicos totalmente diferentes. A combustão do fogo é totalmente diferente do fissão atómica composta do sol. O fogo é uma interpretação das coisas. Falar que o sol é uma bola de fogo é metafórico, não científico. O fogo não é fogo, é uma interpretação, uma metáfora.

Uma fábula de vítima

Hoje, eu gostaria de desenvolver mais sobre um peculiar assunto que talvez eu vá desenvolver em outras partes em outros momentos, uma colega ------- tem dedicado a vida dele a jogos no computador e a trabalhar. Em uma das reuniões em que ----- perguntou o quão cada um tem feito numa ausência dela de alguns meses. Ela disse com uma voz de cachorro sem dono: Nossa, eu não progredi nada, nem congresso on line eu tenho participado. Ano passado foi o último congresso em que participei. Eu ando muito relapso. Logo, uma das participantes da reunião disse: Calma, não tem como mesmo a gente está produzindo nada. Ninguém deixou de se sensibilizar.


 

 


"Não quero paráfrase da literatura, o texto já diz melhor, quero uma briga entre os textos".

Cristina Henrique Costa

Autodidata (autodidaktos)

Na concepção dos gregos de acordo com o livro “As musas” também “é aquele que não recebeu nenhuma instrução de outro ser humano” (curioso pensar que receber um dom divino também parte de uma falta de tato ou de relação ao ser humano). 

Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braço, que às vezes adivinhei insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava. Muitos momentos. Conforme, por exemplo, quando eu me lembrava daquelas mãos, do jeito como se encostavam em meu rosto, quando ele cortou meu cabelo. Sempre. Do demo: Digo? Com que entendimento eu entendia, com que olhos era que eu olhava? Eu conto. O senhor vá ouvindo. Outras artes vieram depois. (Guimarães Rosa - Grande Sertões Veredas - pág. 146-147)

uma bicha largada

    Ultimamente, uma das minhas maiores queixas na terapia tem sido o receio de me tornar uma bicha largada, mentira. Mas de não ter uma boa relação com as tarefas domésticas da minha casa. Sempre que penso nessas coisas eu lembro do quanto minha mãe tem um certo capricho para nossa casa. Minha mãe não ostenta uma casa de luxo, mas como no poema de Manuel Bandeira "cada coisa está em seu lugar".

    Uma vez minha mãe me perguntou se eu sentia falta do cheiro na roupa que ela deixava. Eu fiz "hum", querendo dizer que não era nem marcante para mim, mas a gente já tem tantos problemas juntos que só disse que sim, depois que tive a oportunidade de regressar a casa em que cresci e perceber o quão eu abria o armário e lá estava o cheiro perfumado das roupas. Eu percebi que talvez eu nunca seja essa pessoa tão caprichosa com a casa como a minha mãe.

    Talvez de alguma forma eu quisesse levar ela comigo, já que nunca seremos amigos. Nunca vou levar meus filhos para comer bolo com ela num domingo. Minha terapeuta diz o tempo todo que distância cura. Como um bom capricorniano talvez eu não queira ser curado de nada, apenas conseguir ter a estrutura para sustentar a minha distância. 

    Pensar na família que eu quero formar me fez lembra da vez em que namorei um doutor em linguística, que tive o desprazer de ter que limpar o vaso sanitário, porque parecia que tinha um bicho morto dentro, não fiz por amor, mas infelizmente usava. Se eu me sujeitar a limpar o  vaso sanitário de alguém e a pessoa ainda desconfiar de que não estou a fim de seguir com ela, é muito problemático.

    Voltei a atualizar esse blog para ver se daqui a dez anos vou conquistar a minha família e o capricho pela casa.

    Ontem, minha terapeuta disse que eu construo barreiras que eu não deixo as pessoas ultrapassarem, citou a Évelin, que eu deixava ela ir até um certo ponto. Fiquei pensativo demais sobre isso. Pois, ela continuou dizendo que em todo esse processo de mudança, eu fiquei muito surpreso que as pessoas gostavam de mim e me ajudaram na minha vaquinha para recomeçar a vida em campinas.

    Eu realmente fiquei muito emocionado com o apoio dos meus amigos e das pessoas que não esperava nada, mas que me apoiaram de alguma forma que não só financeiramente. Eu talvez não tenha deixado tão claro as pessoas que me apoiaram, mas a minha terapeuta testemunhou meus relatos e meus momentos de sensibilidade contida.



    As vezes, eu subestimo a percepção da minha terapeuta para muitas coisas, o que acredito ser muito errado, mas acho que depois da sessão de ontem, de alguma forma, fui surpreendido. "Alguma coisa aconteceu* no meu coração" que só me faz pensar sobre essas barreiras que eu criei entre as pessoas e eu. Foi forte ouvir: "você já não permite mais que façam certas coisas com você". 

    E de alguma maneira isso foi intenso, porque eu comecei a fazer terapia há 3 anos pensando que me tornava inalcançável de maneira intelectual  as outras pessoas, na maneira com que eu me relacionava afetivamente, eu já me sentia de alguma maneira cansado para certos comentários e comportamentos do mundo gay que se repetem num ciclo vicioso (em algum momento da minha vida desenvolvo mais sobre isso).

 Em vez do suicídio heroico do rei, Delacroix nos apresenta uma desvairada orgia de violência e erotismo. O personagem controla a situação, como se ele detivesse o poder sobre a vida e a morte. O rei utiliza roupas sofisticadas, demonstrando toda a elegância digna de um monarca.



 


 Acho que nunca expus minha vida afetiva dessa forma, mas foi incrível ouvir ele lendo para mim. Estamos nos conhecendo, eu prestes a sair da cidade, mas vai ficar a lembrança bacana de alguém que me desejou desde o primeiro dia. Que agrega minha paz. Que me traz sorrisos.


            Comprei o livro para meu @, espero que ele fique feliz. Bateu um filme no banho enquanto pensava em escrever esse texto. Para ser preciso, foi um flash de memória da primeira vez em que ouvi falar desse livro, o asco que o título me provocava "morangos mofados". Consequentemente, além do asco a expressão facial característica de nojo que não consigo disfarçar sendo a pessoa expressiva demais que sou.

                Quem diria que o Caio Fernando Abreu seria tão relevante na minha vida, tão significativo ao me ensinar a nomear sentimentos que nem sabiam que existiam em mim. Uma bicha para sempre ser lembrada, com carinho, com café, com paixão.


“Os que gozam igual a todo mundo se incomodam com os que estão gozando diferente.” Henrique Vicentini em live com Rita Von Hunty

 "A fala é como a chuva, tem uma temporalidade que também se esgota" Antonio Pécora

 "sombra de mangueira que não deixa crescer nada por perto" Ciro Gomes falando sobre o PT em Entrevista com Caetano Veloso 13/06

Crazy - Patsy Cline (1961)


 

 Guilherme Zarvos sobre Silviano em entrevistas:

"Se você trouxer os seus sentimentos reais sem a estética, sem a mentira, você está fazendo carta para a namorada, ou carta para a posteridade, institucional para quando morrer?"

SILENZIO BRUNO!


    Hoje de manhã, eu assisti essa animação, estou surtando com inúmeras coisas para fazer e talvez algumas demandas eu tenha que simplesmente não cumprir, mas desde que entrei no mestrado, desde que começou a pandemia: eu não tenho feito outra coisa se não surtar. Eu não me arrependo de parar o meu dia para ver esse filme e consequentemente emocionado escrever esse texto. Como é grandioso o roteiro desse filme, como é maravilhoso a inocência dos personagens super bem desenvolvidas, além de uma coisa que me fez lembrar os filmes de criança da minha infância, como "The Little Rascals". É uma história simples de uma grande competição com um prêmio em dinheiro. Simples, mas que em nenhum momento rompe com a verossimilhança proposta pela animação. 
    Tive sentimentos controversos sobre o nome do protagonista e o bordão "SILENZIO BRUNO!", talvez eu precise me dizer mais isso quando sentir medo. Não que eu tenha deixado de fazer algo na minha vida por conta do "Bruno", mas em alguns momentos me lamuriei demais com os outros sofrendo por antecipação e com as angústias do Bruno. Tem sido momentos conflitantes e questionadores sobre minha vida profissional e a estabilidade que tenho dúvidas as vezes se em algum momento alcançarei. Tenho me perguntado frequentemente sobre realizar o sonho da casa própria num mundo incerto em que eu tenho que estudar e dar conta de um mestrado fora da cidade que consequentemente me anima para fazer um doutorado.
        O protagonista desse filme é super fascinante, é maravilhoso sua curiosidade sobre o mundo, sua vontade de aprender e de ouvir a sabedoria do outro. Acho que me pegou de uma forma intensa cada detalhe, o medo do Luca, a doçura e a curiosidade por tudo o que o mundo pode oferecer. O mundo é grande e o coração do Luca tem medo.


 "Eu disse em outras entrevistas e quero repetir aqui, isso é uma coisa da cultura do Rio de Janeiro, as pessoas que moram no Rio sabem que o miliciano tem uma cultura diferente. Ele nunca considera que é criminoso, que está cometendo danos a vida das pessoas, que está traficando. Não, ele acha que não é criminoso e considera que é vagabundo todas as pessoas que o enfrentam." Renan Calheiros - 16 de Maio de 2021 sobre o Bolsonaro na CPI da COVID.

Minimalismo digital

Cada dia que passa tenho me sentindo péssimo.
Ansiedade, angústia, medo de falhar, recorri a medicamentos que me deram sono e cortaram minha libido.
Tenho pensado muito sobre o que me faz sempre voltar e buscar amparo na internet.

(E nesse processo acho que tive um grande insight, lembrei do Felipe)

Antes de precisar contar quem ou se de fato é relevante dedicar algumas linhas para falar sobre o Felipe, o meu insight quase que de uma sessão lacaniana de iluminação, dor e sentimentos mistos que não sei explicar.

Me dei conta do quanto tempo estou na internet e como a minha fissura por estar conectado só tem aumentado minha ansiedade e a busca por uma coisa que mal compreendo.

Quando tive acesso pela primeira vez a um computador eu tive meu primeiro contato com o amor.
Primeiro contato com alguém numa época da  vida em que estava passando da transição infantil para conquista das minhas vozes, da minha necessidade de ser compreendido, amado e principalmente escutado. 

Estar na internet para mim, era estar sendo ouvido, estar conectado* a alguém que vivia em outra cidade, mas que de alguma forma me fazia sentir desejado, amado. A internet me proporcionou o encontro dos falos que nunca esteve presente do meu pai. A figura ausente que me acolhia estava ali pronta para me preencher de abusos morais, de excessos não correspondidos ou secreção indesejada de alguém que me sujeitei a conhecer na esperança de saciar a minha falta.

Todos esses anos eu estive na internet buscando alguém que pudesse me salvar de algo que nunca entendi exatamente do quê. Com a terapia eu tenho percebido que tenho desejado ser salvo da minha família. Das nossas incompatibilidades grosseiras e individuais. Minha família é tóxica, mas acho que insisti muito quando não estava tentando fugir de perto deles.

Uns dias antes desta conclusão, assisti um vídeo sobre minimalismo digital, e me despertou sentimentos muito intensos sobre o porquê parei aqui. Como a internet se tornou esse campo asqueroso de consumo, de descarte, de solidão, de busca de uma alma que vaga num brejo fedido.



Todos os dias desde então, tenho pensado em como sair pela porta de trás das minhas redes sociais. Eu sempre repeti inúmeras vezes aos meus amigos que apagar as redes sociais é reprodução adulta do bordão, "mamãe, eu vou fugir de casa". Eu queria apagar as luzes e apenas sumir. Mas, não quero de alguma forma ficar refém do meu orgulho quando sentir que meu corpo não saiu totalmente desse mundo de consumo, em que se você não está consumindo, você deveria estar produzindo.




Eu não fugir para depois voltar com rabo entre as pernas. Gostaria de planejar um corte dessa dependência olhar para o post-it que me faz a pergunta de uma sessão da terapia "Como sair do automático?". Esse automático é o excesso de coisas, que tenho feito e sofrido por ansiedade quando não estou fazendo nada. A necessidade de mostrar para o outro o quão tenho feito e conquistado mil coisas e me frustrado por não dar conta de inúmeras outras.

Eu preciso limitar e reduzir o meu consumo de internet e sair do automático, domar a minha ansiedade e estudar o que preciso estudar. Ser quem eu gostaria de ser. Sonhar e realizar o que desejo conquistar.

  • Gostaria de ter mais disciplina
  • mais tempo para estudar
  • menos ansiedade
  • fazer mais exercícios físicos 

de mudar minha identidade.






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* Me perdoo por não me esforçar para ter um vocábulo melhor que não dê ideia de campo semântico na internet, mas que resgate o sentido de conexão pessoal. 
** também não me preocupei com o alinhamento deste texto.