Para concorrer a um Oscar, não sei que conseguiu acompanhar os relatos de Fernanda Torres neste processo, ela diz que há uma corrida de apresentação do filme em universidades, em festivais, em lugares determinantes para primeiro fazer o filme ser conhecido, depois outra corrida para tentar chegar até os votantes do prêmio que são dezenas ou centenas (não lembro bem) espalhados por países específicos.
Antes de trazer meus levantamentos sobre o filme que conta a história do Ney Matogrosso, a fala que gostaria de começar este texto, foi retirada de uma dessas entrevistas que a Fernanda Torres deu falando sobre o Brasil:
O Brasil é uma ilha continental e a gente é isolado pela nossa língua, ao mesmo tempo a gente consome a nossa própria cultura. a gente tem total interesse por nós mesmos. Porque somos uma potência de 200 milhões de pessoas, nós somos um país complexo. A gente não é um país periférico, a gente tem as nossas próprias questões. Outro dia conversando com a Daniela Thomas, Engraçado né? porque eu conheço a cultura francesa, eu conheço a cultura americana. Eu conheço a cultura russa, a cultura alemã, a cultura italiana. Mas eles não conhecem a cultura brasileira muito, e as vezes eu tenho pena de quem nunca leu Machado de Assis, de quem não conhece o Eça de Queiroz. Agora as pessoas descobriraram a Clarice Lispector e escrevem assombradas. Como posso falar com alguém que não sabe quem é Nelson Rodrigues. Que não sabe quem é Candeia, não sei?! Então, ao mesmo tempo que o Brasil tem esse complexo de vira-lata dessa não comunicação com o mundo. Por outro Lado o Brasil tem pena do mundo não saber do que a gente sabe. Quando alguém fura a fronteira e leva algo que nos é pessoal para fora. É essa especíe de sentimento de "OLHA O QUE A GENTE TEM DE RICO" é um sentimento de orgulho nacional bacana, bom de sentir.
Deste fragmento supracitado, eu gostaria de destacar, a gente tem pena do mundo. Eu tenho pena do mundo que nunca vai ser capaz de entender a ancestralidade, a força da matriz africana por traz da cena que inicia o filme do Ney. A sensibilidade do menino que, escuta a natureza, quer ser bicho. Há uma entrega do Jesuíta Barbosa para além da vaidade, do enquadramento perfeito que vai valorizar seu ângulo. Não. É apenas entrega de alguém que merecia todos os reconhecimentos internacionais possível que jamais chegaram. E reafirmo, eu tenho pena do mundo.
Como professor de português para estrangeiros, eu poderia explicar, poderia exemplificar, mostrar os orixás, dizer sobre a ancestralidade que reina em todos os brasileiros sem mesmo terem essa religião como guia, mas não teria sucesso. O aluno mais afetuoso pelo Brasil só conseguiria dizer "interessante", como disse uma vez o professor José Geraldo: Não tenho como discutir com a deputada porque a sua visão de mundo, a sua percepção só lhe permite enxergar o que já tem escrito na sua cognição. A senhora não vai ver o que existe, mas o que a senhora recorta da realidade.
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