Uma fábula de vítima

Hoje, eu gostaria de desenvolver mais sobre um peculiar assunto que talvez eu vá desenvolver em outras partes em outros momentos, uma colega ------- tem dedicado a vida dele a jogos no computador e a trabalhar. Em uma das reuniões em que ----- perguntou o quão cada um tem feito numa ausência dela de alguns meses. Ela disse com uma voz de cachorro sem dono: Nossa, eu não progredi nada, nem congresso on line eu tenho participado. Ano passado foi o último congresso em que participei. Eu ando muito relapso. Logo, uma das participantes da reunião disse: Calma, não tem como mesmo a gente está produzindo nada. Ninguém deixou de se sensibilizar.


 

 


"Não quero paráfrase da literatura, o texto já diz melhor, quero uma briga entre os textos".

Cristina Henrique Costa

Autodidata (autodidaktos)

Na concepção dos gregos de acordo com o livro “As musas” também “é aquele que não recebeu nenhuma instrução de outro ser humano” (curioso pensar que receber um dom divino também parte de uma falta de tato ou de relação ao ser humano). 

Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braço, que às vezes adivinhei insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava. Muitos momentos. Conforme, por exemplo, quando eu me lembrava daquelas mãos, do jeito como se encostavam em meu rosto, quando ele cortou meu cabelo. Sempre. Do demo: Digo? Com que entendimento eu entendia, com que olhos era que eu olhava? Eu conto. O senhor vá ouvindo. Outras artes vieram depois. (Guimarães Rosa - Grande Sertões Veredas - pág. 146-147)

uma bicha largada

    Ultimamente, uma das minhas maiores queixas na terapia tem sido o receio de me tornar uma bicha largada, mentira. Mas de não ter uma boa relação com as tarefas domésticas da minha casa. Sempre que penso nessas coisas eu lembro do quanto minha mãe tem um certo capricho para nossa casa. Minha mãe não ostenta uma casa de luxo, mas como no poema de Manuel Bandeira "cada coisa está em seu lugar".

    Uma vez minha mãe me perguntou se eu sentia falta do cheiro na roupa que ela deixava. Eu fiz "hum", querendo dizer que não era nem marcante para mim, mas a gente já tem tantos problemas juntos que só disse que sim, depois que tive a oportunidade de regressar a casa em que cresci e perceber o quão eu abria o armário e lá estava o cheiro perfumado das roupas. Eu percebi que talvez eu nunca seja essa pessoa tão caprichosa com a casa como a minha mãe.

    Talvez de alguma forma eu quisesse levar ela comigo, já que nunca seremos amigos. Nunca vou levar meus filhos para comer bolo com ela num domingo. Minha terapeuta diz o tempo todo que distância cura. Como um bom capricorniano talvez eu não queira ser curado de nada, apenas conseguir ter a estrutura para sustentar a minha distância. 

    Pensar na família que eu quero formar me fez lembra da vez em que namorei um doutor em linguística, que tive o desprazer de ter que limpar o vaso sanitário, porque parecia que tinha um bicho morto dentro, não fiz por amor, mas infelizmente usava. Se eu me sujeitar a limpar o  vaso sanitário de alguém e a pessoa ainda desconfiar de que não estou a fim de seguir com ela, é muito problemático.

    Voltei a atualizar esse blog para ver se daqui a dez anos vou conquistar a minha família e o capricho pela casa.

    Ontem, minha terapeuta disse que eu construo barreiras que eu não deixo as pessoas ultrapassarem, citou a Évelin, que eu deixava ela ir até um certo ponto. Fiquei pensativo demais sobre isso. Pois, ela continuou dizendo que em todo esse processo de mudança, eu fiquei muito surpreso que as pessoas gostavam de mim e me ajudaram na minha vaquinha para recomeçar a vida em campinas.

    Eu realmente fiquei muito emocionado com o apoio dos meus amigos e das pessoas que não esperava nada, mas que me apoiaram de alguma forma que não só financeiramente. Eu talvez não tenha deixado tão claro as pessoas que me apoiaram, mas a minha terapeuta testemunhou meus relatos e meus momentos de sensibilidade contida.



    As vezes, eu subestimo a percepção da minha terapeuta para muitas coisas, o que acredito ser muito errado, mas acho que depois da sessão de ontem, de alguma forma, fui surpreendido. "Alguma coisa aconteceu* no meu coração" que só me faz pensar sobre essas barreiras que eu criei entre as pessoas e eu. Foi forte ouvir: "você já não permite mais que façam certas coisas com você". 

    E de alguma maneira isso foi intenso, porque eu comecei a fazer terapia há 3 anos pensando que me tornava inalcançável de maneira intelectual  as outras pessoas, na maneira com que eu me relacionava afetivamente, eu já me sentia de alguma maneira cansado para certos comentários e comportamentos do mundo gay que se repetem num ciclo vicioso (em algum momento da minha vida desenvolvo mais sobre isso).