Existem
duas formas básicas para um texto de temática gay viralizar na internet. A primeira
é a mais fácil; eu começo a falar da doentia desordem comportamental em busca
da beleza e perfeição do mundo das minorias praticantes de sexo homoafetivo; A
segunda é deixar claro que nunca pertenci a nada referente ao mundo gay e que
entrei para um clã místico de pessoas que “escolheu esperar”, e que portanto
nunca sequer baixou um aplicativo de “pegação”, mas que já ouvi vários relatos
de amigos, e justamente por isso, resolvi relatar a crueldade daqueles que são
rejeitados na desordem do mundo gay.
Visto essas opções, optei por deixar as duas formas supracitadas
de lado, e escolhi por uma outra forma a que me divertiria mais: falar sobre Giovana.
Afinal, eu e ela temos muito em comum, além de um “forninho” prestes a cair sobre
nossas cabeças. Eventualmente todos crescemos e sentimos a necessidade de
expressarmos nossa sexualidade. Eu cresci tardiamente enquanto Giovana virou mais
que um hit de internet, ela cresceu sem nem atingir sua menarca e canta
lindamente: “desce, sobe, empina e rebola e tenta ser toda delícia, toda
gostosa”. Eu só fui largar as roupas coloridas de criança, deixar a barba
crescer e trocar a armação dos óculos quando me toquei, aos 25 anos, que tinha
me tornado adulto e estava inserido num “mercado” de pessoas solteiras de novo.
Depois
que terminei meu último relacionamento, acho que demorei uns sete meses, para
ter coragem de entrar num site de relacionamento gay novamente. E, nesse
momento estava eu, com vergonha de mostrar a cara, com uma foto trajando uma
máscara azul do Homem de Ferro. Não durei um mês naquele site. Não foi por
falta de convites para sexo ou para conversar. Foi por uma coisa mais intensa
que nunca tinha sentindo até então. E, se sem mais ou do nada uma frase do
Machado de Assis ecoasse forte em cada perfil que chegava a me mandar alguma
mensagem, de maneira que eu sentia medo de ser rejeitado, de não ser minimamente interessante. A frase era “Capitu era muito mais mulher do
que eu era homem”. Isto é, o problema não era nos outros, era em mim.
Lembro
que cheguei a explicar a algumas pessoas que não era falta de interesse de
minha parte, e bem direto dizia que achava seus perfis sexy até, mas era eu que
não era o exemplo de sexualidade o suficiente para atraí-los. Talvez por ser
nerd ou apresentar referências da Marvel, Ocarina of Time ou AC/DC,
aparentemente, eu me tornava mais agradável e por isso despertava o interesse
dos perfis. E, acho que isso atraia as pessoas. (Por aparentar ser
“bem-menininho”) essa atenção me levou a crer que em algum momento desse século
as pessoas começaram a achar legal ser estranho e gostar de coisas
“inteligentes”. Eu queria ser legal? Confesso que queria, mas eu não preenchia
o requisito de masculinidade ou de feminilidade, mesmo quando minha
inteligência era vista como prioridade diante dessa dicotomia, ainda assim
sabia que mais cedo ou mais tarde, a aparência iria contar mais. A ficha caiu
que, ao menos para estar bem cotado nesses sites, boates, aplicativos - afirmaria
que pra ser gay – é preciso exceder-se no estereótipo do másculo ou do
feminino.
Por mais que atualmente inúmeros sites foquem
no universo gay tentando o tempo inteiro dizer que você pode ser quem você
quiser, “Cause you were born this way, baby”, a minha
impressão é que o imaginário sexual deste universo vai sempre te exigir um ou
outro; o masculino-homem-viril ou o afeminado-que-precisa-de-proteção, pronto
para vestir uma calcinha caso necessário. E, sinceramente eu não preencho
nenhum deles, eu sobrei. Não que fosse vergonha entrar em um ou outro, pois
afinal feliz é aquele que sempre se enquadrou. Quem nunca disse que era hétero
numa roda de colegas/conhecidos para ser aceito? Seja na adolescência ou no
bate-papo UOL quando afirmamos: “sou discreto”. Por mais que tentem negar, existe uma vontade de enquadramento em cada um de nós.
Meu maior problema está em não saber ser sensual, e nem preciso
confessar que eu não sei combinar blusas sociais feitas por lojas de estampas
alternativas - até uns meses atrás, eu era o que comprava roupas em lojas de
departamento no final do ano pra ficar bonitinho no natal – já sendo tão
“tragicômico” como Geovana tentando ser sensual, também não levo jeito pra
música. No máximo, vocês vão conseguir me ver postando algo desagradável em
fotos da Katy Perry como: “Sai dae sem grammy”. Ou seja, um torto na vida.
Torto por não estar nem ai para as brigas entre as divas do pop, mas implicante
o suficiente para cutucar aqueles que se importam. Eu sobrei, e sobrei pra
implicar.
Como se não bastasse ter que ser bom/combinar no sexo, no beijo, no carinho é preciso corresponder às expectativas também no quesito masculinidade. Por isso, diria que esse é o maior motivo pelo qual, a maioria dos meus amigos estão solteiros. A gente só quer saber de ser conquistado, mas o que fazemos quando o período da conquista acaba? Eu vejo o tempo inteiro amigos e amigas querendo e desejando conquistas e juras de amor eterno. Entretanto, sem se darem conta que nem tudo é só conquista, sedução, que mais cedo ou mais tarde receberemos rotina em troca. E, não pensem que o fim da conquista é uma via de mão única, acaba acontecendo por ambas partes. Me parece bastante injusto quando nos filmes da Disney, os quais crescemos assistindo, só abordam o príncipe com hálito de bala halls acordando a Branca de Neve. O fato é que estamos condicionados à sedução, numa busca romântica por uma perfeição que só existe em nossas cabeças. Não é fácil conhecer alguém ciente de que a qualquer momento aquela sensação, de querer estar perto ou de ser agradável com o outro acabará em breve. E mais difícil ainda, encontrar alguém disposta a permitir que você entre na rotina dela num compromisso.
Tornar
a rotina do outro presente na nossa, ciente de que um dia esse(a) parceiro(a)
pode acordar descabelado(a) ou com bafo, só piorar a situação. Já imaginou que
talvez a pessoa que você conheceu no Tinder pode não se parecer com aquela
imagem bonita, sob a luz e o ângulo certo, o tempo inteiro? É desagradável
mesmo, mas cedo ou tarde a gravidade ou o tempo trata de tirar aquela
barriguinha tanquinho, mas pense positivo! Fica o que você construiu durante a
relação, e isso está além da beleza. Por isso, conhecer alguém ciente que perderemos
“a conquista” e transforma-la numa relação - num tratado de companheirismo - é
muito difícil, ainda mais quando, frequentemente, aquele comercial da OLX, entre o horário da novela das nove e as madrugadas de sábado, está jogando na nossa
cara que ter uma vida na rotina é inaceitável.
É por
toda essa idealização de amor perfeito que ando com uma preguiça pra gente que
acha que o príncipe encantado vai chegar a qualquer momento, num cavalo branco,
e dizendo que vai preencher todas as suas lacunas de insegurança e ainda vai
falar inglês e te levar pra conhecer a Europa. Sobre minha experiência no site
de relacionamento, até cheguei a conhecer alguém com quem pensei seriamente em
ter algo sério. Meu gosto por ele, só cresceu por dividir comigo suas formas de
encontrar Deus, de como ele admira a lua ao meio dia quando ninguém
mais liga pra ela no céu claro. Mas eu não fazia o tipo dele, não por ele
curtir mais Kill Bill, e eu Death Proof, mas por eu ser menos homem que ele,
por eu gostar de jogar meu DS ao invés de assistir Games Of Thrones. Acontece!
Por
essas e outras, a gente volta pra roda, e tenta de novo, numa outra hora, num
outro lugar. Cientes que é de onde menos esperamos que encontraremos forças
para segurar o forninho que está prestes a cair. Sempre a espera de alguém pra ajudar, ciente
do mais famosos dos clichês “que é preciso muito mais que; ser sexy ou ter só
mais um rosto bonito”. Antes de qualquer coisa é importante sempre lembrarmos:
Valorize aqueles que aparentam mais preocupados com o que sentimos e desejamos.
Portanto, voltando para o tema do texto, para ser um Mestre Pokemon é preciso
coragem, paciência e um Mega Alakazam, pois de repente crescer e não ter uma
arma pra enfrentar o mundo gay e suas peculiaridades vem se tornando cada vez
mais difícil.
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