Série MERLÍ Netflitx

Sigo minhas jornadas como parasita de algumas plataformas de streaming depois que o André me deu uma stick da amazon conectando minha Alexa a TV. E, hoje eu gostaria de falar ou desenvolver alguma coisa sobre a última série inesperada que assisti Merlí. A produção foi indicada por um ex crush. Pasmem, depois que o tarô disse: uma gracinha, mas tão profundo quanto um pires, nunca mais desvi. 

Mas, sobre a série é alguma coisa meio malhação, estudantes numa universidade discutindo o básico da filosofia. Algo bem água com açúcar na primeira temporada. Até que tudo mudou na segunda temporada. O pratagonista descobre ser HIV positivo. 

Mas antes do grande fato narrado, logo nos primeiros minutos da segunda temporada há uma reflexão maravilhosa de uma personagem novo dizendo: "Como pode existir milhões de mãos parecidas no universo, mas cada uma ser única?" E o protagonista se pega analisando sua mão como muitos na sala de aula. 



Como não deixarei de ser sincero com minhas lembranças para o meu eu do furuto ou quem interessado possa. Gostaria de lembrar que neste blog, que alimento quando dá, as fotos presentes foram retiradas por mim diretamente da TV, já que a netflix não permite os queridos printscreens. A genialidade do momento aqui está na delicadeza de uma das cenas finais deste mesmo episódio. O protagonista fazendo o teste de HIV na farmácia olhando para a mão. Como pode cada mão ser única? Não sei se recomendo a série, mas esta narrativa ficou no meu coração.













Chico Buarque - Pedaço de mim (1978)

Oh, pedaço de mim

Oh, metade afastada de mim

(...)

Oh, pedaço de mim

Oh, metade exilada de mim

(...)

Oh, pedaço de mim

Oh, metade arrancada de mim

(...)

Oh, pedaço de mim

Oh, metade amputada de mim

(...)

Oh, pedaço de mim

Oh, metade adorada de mim

Esses dias eu vi o documentário do Pedro Bial sobre a história do Jornal Globo ou da Tv Globo, de cabeça não lembro, mas uma cena do primeiro episódio com o Pedro Bial falando que a expressão futebolística “Fla x Flu” é palavra que simula bater de asas molhadas de pássaros. Nunca mais vou deixar de ver a cena.

Gita - Raul Seixas

Há uma delicadeza na música Gita do Raul Seixas com o Paulo Coelho, que me apetece muito falar sobre. Na música repete: eu sou o início, o fim e o meio. O interessante deste detalhe é a sequência de verbos que se repetem anunciando o mesmo: 



Eu gostaria de dar uma atenção no segundo verbo:  "fui" que no português pode ser tanto o verbo ser, quanto verbo ir, uma vez que a conjugação no pretérito perfeito é a mesma. Então, entre esses dois verbos conjugados - sou e  - vou tem um - fui. O trânsito em sua maior expressão ser e ir ao mesmo tempo entre as duas máximas. Sutilezas que maximizam o trabalho artistico de alguém. Salve Raul Seixas e Paulo Coelho. 

Quase - Antônio Cícero

Quase  

Por uma estranha alquimia

(você e outros elementos)

Quase fui feliz um dia.

Não tinha nem fundamento.

Havia só a magia

Dos seus aparecimentos

E a música que eu ouvia

E um perfume no vento.

Quase fui feliz um dia.

Lembrar é quase promessa,

É quase, quase alegria.

Quase fui feliz à beça

Mas você só me dizia:

"Meu amor, vem cá, sai dessa".

Quero escrever um livro chamado "O feminino de bicho"

     Para concorrer a um Oscar, não sei que conseguiu acompanhar os relatos de Fernanda Torres neste processo, ela diz que há uma corrida de apresentação do filme em universidades, em festivais, em lugares determinantes para primeiro fazer o filme ser conhecido, depois outra corrida para tentar chegar até os votantes do prêmio que são dezenas ou centenas (não lembro bem) espalhados por países específicos. 

      Antes de trazer meus levantamentos sobre o filme que conta a história do Ney Matogrosso, a fala que gostaria de começar este texto, foi retirada de uma dessas entrevistas que a Fernanda Torres deu falando sobre o Brasil:

O Brasil é uma ilha continental e a gente é isolado pela nossa língua, ao mesmo tempo a gente consome a nossa própria cultura. a gente tem total interesse por nós mesmos. Porque somos uma potência de 200 milhões de pessoas, nós somos um país complexo. A gente não é um país periférico, a gente tem as nossas próprias questões. Outro dia conversando com a Daniela Thomas, Engraçado né? porque eu conheço a cultura francesa, eu conheço a cultura americana. Eu conheço a cultura russa, a cultura alemã, a cultura italiana. Mas eles não conhecem a cultura brasileira muito, e as vezes eu tenho pena de quem nunca leu Machado de Assis, de quem não conhece o Eça de Queiroz. Agora as pessoas descobriraram a Clarice Lispector e escrevem assombradas. Como posso falar com alguém que não sabe quem é Nelson Rodrigues. Que não sabe quem é Candeia, não sei?! Então, ao mesmo tempo que o Brasil tem esse complexo de vira-lata dessa não comunicação com o mundo. Por outro Lado o Brasil tem pena do mundo não saber do que a gente sabe. Quando alguém fura a fronteira e leva algo que nos é pessoal para fora. É essa especíe de sentimento de "OLHA O QUE A GENTE TEM DE RICO" é um sentimento de orgulho nacional bacana, bom de sentir.

        Deste fragmento supracitado, eu gostaria de destacar, a gente tem pena do mundo. Eu tenho pena do mundo que nunca vai ser capaz de entender a ancestralidade, a força da matriz africana por traz da cena que inicia o filme do Ney. A sensibilidade do menino que, escuta a natureza, quer ser bicho. Há uma entrega do Jesuíta Barbosa para além da vaidade, do enquadramento perfeito que vai valorizar seu ângulo. Não. É apenas entrega de alguém que merecia todos os reconhecimentos internacionais possível que jamais chegaram. E reafirmo, eu tenho pena do mundo. 

        Como professor de português para estrangeiros, eu poderia explicar, poderia exemplificar, mostrar os orixás, dizer sobre a ancestralidade que reina em todos os brasileiros sem mesmo terem essa religião como guia, mas não teria sucesso. O aluno mais afetuoso pelo Brasil só conseguiria dizer "interessante", como disse uma vez o professor José Geraldo: Não tenho como discutir com a deputada porque a sua visão de mundo, a sua percepção só lhe permite enxergar o que já tem escrito na sua cognição. A senhora não vai ver o que existe, mas o que a senhora recorta da realidade.


    Foi uma surpresa boa, depois da decepção que foi o filme da Gal. Saí de lá com duas motivações muito fortes. Na verdade três, mas acho que só consigo declarar duas publicamente. 1. quero escrever um livro chamado "o feminino de bicho", e em seguida, 2. quero o corte da barba do ex marido do Ney o Marco de Maria, que foi companheiro de Ney por 13 anos, e, que no filme é interpretado por Bruno Montaleone. 


        Para encerrar os recortes pessoais e este texto, também foi forte demais para mim, ver o Ney assumindo o sobrenome do pai que não recebeu como seu nome artístico. Uma vez pedi uma certidão de nascimento ao meu pai e chegou até mim um envelope com a certidão dobrada dentro com o nome em letras garrafais do lado de fora "Bruno Oliveira" (o sobrenome da minha mãe). Lugares em que a arte só atinge a gente, apenas atinge lugares que estavam ali no esquecimento. Eu não seria o menino que aguentaria apanhar do pai sem chorar, eu tentaria porque eu sou orgulhoso para o desafio, mas eu nunca soube ser tão forte assim. Mas também assumi o sobrenome do meu pai para falar de minhas gayzitudes.