Geração Zero Zero
Desde que parei de caber no balde que tento caber na vida - Bruno Couto
INVEJA
Esses dias me dei conta no quanto desejo coisas. Meu orientador me contou feliz que se tornou avaliador do prêmio ocenanos. Estávamos num bar e disse a ele: - agora é aquele momento que você para o bar e diz: "uma rodada para todo mundo por minha conta!" Ele me cortou e disse para falar baixo (imaginei que fosse sigiloso).
Semana passada, fui apresentar num congresso sobre a Ana Cristina Cesar e uma colega Talita (talvez um nome fictício) se apresentou tão bem, com tanto amor pelo o que apresentava, não se apegou ao texto (como aprendi a fazer para passar seriedade). Fiquei com tanta vontade de testar alguma apresentação dessa forma, para desafiar a minha oratória.
O título desse texto diz inveja, mas não é o sentimento pelo qual estou reinvindicando neste dois casos isolados. Curiosamente, um crush da universidade, talvez de 2015, casou em uma mega cerimônia com um rapaz. (Todos os dias eu penso em fazer uma festa de casamento para aproveitar o momento especial com meus amigos, por minha conta é claro).
Temos aqui, no parágrafo acima meu caso de inveja declarada. Acho que tive uma conversa sobre relacionamento e afetividade com Matheus anos atrás e lembro de uns comentários aleatórios que me disse: "eu não sei exatamente aonde, mas todas as vezes que converso contigo, me vem a sensação de que você está me ensinando alguma coisa de profundidade sobre a vida". Como se eu me colocasse num lugar superior a ele.
De lá para cá, muita coisa mudou, talvez essa arrogância de me por num lugar superior a alguém no flerte tenha mudado bastante. É difícil prever, uma vez que eu me vejo como uma pessoa tão mais fácil de lidar, de que no final eu vou investir e a outra pessoa não vai saber lidar com os sentimentos dela. Em algum momento lidando com homens, flertando com homens, aprendi a ser assim, algo que ando me policiando.
Mas sobre a inveja, senti inveja do casamento do Matheus, por ter sentido muito amor por ele em algum momento, por ser espírita e aceitar casar com alguém publicamente e esse alguém não ser eu. Sobre o meu orientador, eu quero ter a minha trajetória e ser chamado para avaliar os concorrentes do prêmio oceanos ou sobre a Talita, quero também aprender a ter mais desenvoltura em público. Sobre os dois primeiros parágrafos, eu quero me superar, sobre o Matheus, eu desejo felicidade ao casamento.
Erasmo Carlos - É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo
Gostaria de começar este post com a frase, essa música no filme Ainda estou aqui é uma pedrada no olho. Eu cresci em torno do primeiro batalhão de polícia do exército, onde muita gente foi torturada e morta pelos governos da ditadura. Assistir o filme vendo o que acontecia ali me tirou o fôlego de tantas maneiras. O silêncio em que muitos momentos a Fernanda Torres nos proporciona no filme é um tapa, é uma agressão, é um gesto de engolir a seco. Não vou dar uma nota nem especular que a gente merece um prêmio tal de cinema, porque a gente é maior que isso. A gente é maior que um prêmio de uma Gwyneth Paltrow usará como peso de porta.
Oficina de Poesia - Carlito
"o fogo nos repelia" não aceita a nossa presença. A gente respira o ar. A gente se banha na água, a gente deita na terra.
Virgem - Antônio Cícero
As coisas não precisam de você
Quem disse que eu
Tinha que precisar
As luzes brilham no Vidigal
E não precisam de você
Os dois irmãos
Também não precisam
O Hotel Marina quando acende
Não é por nós dois
Nem lembra o nosso amor
Os inocentes do Leblon
Esses não sabem de você
O farol da Ilha
Só gira agora