Na cama - Angela RoRo




"Manchar a sua boca
até você me tatuar
e berrar que me ama
na cama, na cama
meu corpo voltou a se agitar
na cama." 
 

Liniker - Bodyguard (COVER)


 

They couldn't have me (aah), and they never will

And sometimes I hold you closer just to know you're real (aah)

Wheels in the gravel, Davis in my bones

Sometimes I take the day off just to turn you on

Oh, oh, oh

 

Honey, honey, I could be your bodyguard (hey)

Oh, honey, honеy, I could be your Kevlar (uh)

Oh, honey, honеy, I could be your lifeguard (hey)

Ooh, honey, honey, you should let me ride shotgun, shotgun

Oh, oh, oh


Pluie (Chuva) Francis Ponge - Tradução Bruno Couto


 

    A chuva, no quintal onde a observo cair, desce em velocidades muito diversas. No centro, é uma cortina fina (ou rede) descontínua, uma queda implacável mas relativamente lenta de gotas provavelmente bastante leves, uma precipitação perpétua sem vigor, uma fração intensa do meteoro puro. Um pouco mais distantes das paredes da direita e da esquerda, caem com mais barulho gotas mais pesadas, individualizadas. Aqui parecem do tamanho de um grão de trigo, ali de uma ervilha, em outro lugar quase de uma bolinha de gude. Nas hastes, nos braços da janela, a chuva corre horizontalmente enquanto na face inferior dos mesmos obstáculos ela se suspende em gotículas convexas. De um pequeno telhado de zinco que o olhar domina, ela escorre em uma camada muito fina, iridescente devido a correntes muito variadas pelas imperceptíveis ondulações e saliências da cobertura. Da calha adjacente onde flui com a contenção de um riacho raso sem grande inclinação, ela cai de repente em um fio perfeitamente vertical, grosseiramente trançado, até o chão onde se quebra e ressalta em fios brilhantes. Cada uma de suas formas tem uma aparência particular; a cada uma corresponde um som particular. O todo vive com intensidade como um mecanismo complicado, tão preciso quanto aleatório, como um relógio cuja mola é a gravidade de uma massa dada de vapor em precipitação. O som no chão das redes verticais, o gorgolejar das calhas, os minúsculos golpes de gongo se multiplicam e ressoam ao mesmo tempo em um concerto sem monotonia, não sem delicadeza. Quando a mola se solta, algumas engrenagens continuam a funcionar por um tempo, cada vez mais lentamente, e por fim toda a maquinaria para. Então, se o sol reaparecer, tudo desaparece logo, o brilhante aparelho se evapora: choveu.

A solidão da senhorita Bira

    Como um grande colecionador de ruinas, fiquei triste com a senhorita bira. Gostaria muito que ao menos seu corpo fosse desejado por alguém, acho que dói em algum lugar de empatia, porque poderia ser com qualquer um, ou comigo mesmo. A gente nunca acha que pode ser desejado o suficiente por alguém. O desejo do outro nunca está em nosso controle.

"Essa é a minha sina. Está tudo bem".

 

This is Us - 5x06: Birth Mother

 


    Essa hora da noite eu pego para atualizar meu blog  e sei o que quero mostrar, mas não sei o que quero dizer com as imagens. Na última publicação do meu blog. Eu mostrei o desenho que me fez chegar até This is Us. Aquela frase: você chora. 

   Foi muito importante para mim, principalmente me permitir chorar assistindo essa série. Muitas coisas que gostaria de construir e viver ao lado de alguém legal. Muitas dores que não saberia resolver ou curar. 

    Porém, hoje gostaria de falar do lago em que a mãe biológica do Randall cura todas as suas dores. Eu tenho uma conexão muito forte com a água. Nunca superei a música do Caetano em que ele diz: a água arrepiada pelo vento. Não há um dia que eu não pense em me jogar num rio e gritar o mais profundo grito de cura. De salvação, de redenção, de autocuidado.


     Talvez em algum momento consiga vir aqui e dizer de maneira mais precisa sobre essa série. Ou sobre como cheguei até ela. (talvez um comercial da globo?) Mas por enquanto, gostaria de dizer que me marcou, que salvou meu 2023. Que muitas coisas ainda reverberam em mim.

Como cheguei até This is Us (série)

 

(cena do último episódio da primeira temporada de The Midnight Gospel by netflix)

    Em um dos fragmentos que chegou até mim deste desenho dizia:

- Eu sei que não dá para evitar o coração partido, mas o que eu faço quando eu sofrer?

- Você chora. Você chora. (diz a mãe).

Automaticamente cheguei nas lembranças da última vez que chorei. A segunda década dos anos dois mil, foram tão difíceis para mim. Minha mãe me expulsou de casa, meu pai com processo de exoneração de pensão alimentícia depois de tudo que a gente (eu e minha irmã). E tinha tanta dor presa, tanta dor entalada. Eu nunca oscilei tanto de humor como foi 2023 por causa da medicação de ansiedade. Eu me cai e levantei tantas vezes. Hoje escuto com espanto quando meus amigos dizem: você é sensível. Eu nunca achei que mostrava para as pessoas toda a minha fragilidade. Eu estou ficando ciente pelas pessoas que sinto demais, que transbordo demais.